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Neal Cassady e Jack Kerouac. |
Assim que terminar de ler um livro farei uma Review aqui no
blog. Não sei a porcentagem de vocês que visualizam meu blog são leitores de
livro ativos, mas como esse blog é pessoal seria omitir meu preferido
passatempo. Passaria uma imagem minha incompleta. Do que isso importa? Também
não sei, mas me sinto falsa, e ser falsa para mim além de mentir para os outros
é mentir para mim mesma.
Já tinha esse livro na lista do “quero ver” há mais de um
ano. Por ser um livro que marcou uma geração já é uma característica mais que reluzente diante
dos meus olhos. Misturando com a vida de viajante “falido”, drogas e
intelectuais da época me fez delirar de expectativa.
Ter descoberto que a história era real através dos filmes On The road e Kill Your Darlings foi o fim
para mim: tinha que ler. Há uma lenda de que o livro foi escrito em 3 semanas e
que a vida na estrada pedindo caronas, atravessando o estados unidos de norte a
oeste e norte ao sul direto para o México, tenha durado 13 anos.
É importante ressaltar que antes desses “vagabundos
iluminados” em meados dos anos 30 a literatura era na sua maioria sem nenhuma
emoção. O escritor acadêmico não podia escrever suas paixões, seus desejos e expressar
suas dúvidas, ou seja, se envolver com sua obra. Tudo era muito organizado. Nos
poemas tudo categoricamente rimado sem qualquer tipo de liberdade com as
palavras, feito um produto industrializado por máquinas frias, indiferentes.
Essa era a literatura da época. Os poucos que se desviaram tal Rimbaud e Walter
Whitman eram ridicularizados e incompreendidos nos centros de ensino. Assim quase
ninguém tinha a menor curiosidade de entendê-los.
O livro, que é de 1957, no começo foi um pesadelo. Nada daquilo que eu esperava se
desenrolava no texto, um prelúdio enfadonho que lembra o livro "Os sertões."
Aos poucos fui conhecendo melhor o mundo de Kerouac. Seus
anseios, seus amigos loucos intelectuais
e sua grande admiração por Dean Moriarty (nome real: Neal Cassady). Colocando Dean
em um pedestal, tal um deus de uma religião imaginária da juventude que
buscava outros tipos de vida fora a tradicional (nascer, crescer, trabalhar, casar, envelhecer e morrer).
Esse é o ponto chave de todo um livro: um grupo de amigos, por
vezes apenas Kerouac, rangendo os Pneus na estrada, procurando a resposta mais
verdadeira da vida. Conhecendo seus ancestrais e voltando as raízes. Fazendo
poesia, bebendo até o amanhecer e se drogando. Encontrando um estado mais
lúcido possível de uma realidade paralela, ou pesadelo poético, que eles
escreviam nos dedos frenéticos, com maços de cigarros, em uma máquina de escrever
ou um caderno de anotações velho.
Jovens que queriam viver o momento e quem sabe deixar uma marca no mundo. Uma mensagem em forma de livro para nossa geração de solitários tecnológicos.
Influenciaram fortemente a cultura hippie e quase toda Subcultura que existiu nas décadas de 60 e 70.
Influenciaram fortemente a cultura hippie e quase toda Subcultura que existiu nas décadas de 60 e 70.
É bonito, mas é desesperador. A vontade fica ali tatuada no
seu cérebro de fazer o mesmo. A cada página lida, a cada capitulo... Quando
chega ao fim você se sente insaciada e não sabe do quê.
Sede de viver?
Muitos personagens importantes e reais (mudando apenas o
nome) aparecem no livro. Da geração Beat principalmente. A fonte dessa
juventude intelectual, entre eles William Burroughs (ainda irei ler
seu livro “almoço nu”) e Allen Ginsberg (já li o longo poema “uivo” e espero publicar uma review aqui em
breve).
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William Burroughs, Lucian carr e Allen Ginsberg. |
Neal Cassady, que não era escritor de fato ou sequer intelectual, mas
que foi o embrião desse movimento literário e social foi a grande revelação pra
mim. Simplesmente um dos maiores filho da puta egoísta e insensível que já
pisou na terra. Simples assim. No meço até simpatizei com ele, porém com a sua
crescente desvalorização as mulheres (é de deixar qualquer mulher feminista
haha) usando as e as abandonando feito um objeto foi algo repugnante de se ler.
Sempre tentando tirar uma grana dos amigos e acabava quase sempre conseguindo com
o Kerouack, que pela devoção cega que tinha nunca o percebeu por completo o
caso.
Sua histeria e alegria de viver arrastando todos ao redor é
sim algo louvável e prende a atenção. Sei que era um ótimo motorista. Um
selvagem na estrada querendo sempre segui-la até o fim, mas no fim ele deveria
viver entre o animais não na humanidade. Não havia sentimentos suficientes para
isso. Podemos culpar seu pai alcoólatra vagabundo, o período de prostituição
nas ruas quando menor. Podemos culpar o sistema, isso envolvendo a sociedade, seus governantes, mas o que realmente sabemos do Neal no final?
Apenas uma declaração apaixonante de um amigo fiel e companheiro
que pode muito bem deturpado a verdade e os fatos. É apenas a visão do Kerouac sobre
ele. É apenas a visão do Kerouac sobre a vida.
Como diz o autor: “penso em Dean Moriarty.” Eu completo: Penso
em Dean Moriaty e tento decifrá-lo feito um texto árabe ininteligível, exótico.
Penso em Dean Moriarty.
E acho que, apensar de tudo, o entendo.

Próximo da lista de leitura: Nada de novo no front.