Daqueles acasos.






A Encontrei em um burburinho de vozes elétricas e caixas de som ao puro trance, a beira da praia ~ são novos tempos Fernando Pessoa~ que me doía o ouvido ao mesmo tempo que o deixava por demais perceptível. Queria estar sóbria e não estava. Repeti 3 vezes essa frase.
A figura exterior era meio contraditória. Tênis com vestido preto e joias da idade média. Exalava o gótico romântico, mas algo faltava no seu olhar, nos gestos. Me disse logo após, era saudade dos filhos que moram em outra cidade, um de 11 e  outro de 8 anos. Tem 29 anos, e é sargento da Brigada Pré-Militar aqui em Natal. Era de notar que o que faltava em altura tinha em determinação para trazer seus filhos, metade dela estava ali e a outra metade estava com eles.  Contudo, a noite era longa e a festa amentava, com todo tipo de gente possível. Universitários, colegiais, reis e rainhas das viagens alucinógenas e curiosos de plantão. Ora era paraíso, ora era purgatório.  Ainda esperava meu julgamento.

Algumas piadas, alguns goles de uma vodka barata em uma taça de vidro ~que a areia já tinha marcado território~  e muito pra falar. Todos queriam falar. Do relacionamento que não deu certo, do vacilo do crush que desmarcou o encontro na festa underground, da definição dos perfis de exatas e humanas. Da humanidade em toda sua complexidade e conjectura. De repente todos eram filósofos ou profetas, mas sua figura foi a que mais me chamou atenção. Acho que foi a mistura da infantilidade do cabelo rosa  com a saudade dos filhos, suas responsabilidades como adulta. Era ela ou uma parte dela que vi ali? Quem eu vi naquela festa? “Estou vendo a juventude que vai segurar as rédeas do brasil futuramente” disse pra minha amiga e ela riu, ou pensei ter visto ela ri. E apesar de todo o conturbado cenário politico atual e a loucura existente fora e dentro de mim naquele momento, me senti confortada. Havia um lugar pra escapar se tudo der mal, sempre haverá. E ela estará lá.

Volta o cão arrependido...



Depois das insistências desesperadas e pertinentes do número exato de 0 pessoas para que eu volte no blog: aqui estou.
Perdi as contas quantas vezes prometi atualizar isso. Agora, pra ser mais sincera, não prometo nada.
A verdade é que sinto falta de escrever, e a grade curricular da faculdade não supre esse meu fogo haha.
 Pra quem acompanha o blog - mil desculpas - desde a última postagem muita coisa mudou, até a cidade onde moro. Hoje curso Jornalismo na Univerdade Federal do Rio Grande do Norte (menino deu uma emoção escrever isso), Vaga que foi conseguida com muito esforço e autodidatismo. Pensei achar que não ia dar. Deu.
Agoro moro sozinha numa capital e oscilo entre o deslumbramento da independência paternal/maternal e as crises nervosas que me afetam. Mundo perfeito só no cinema do Gene Kelly.
Pensei em escrever um livro, pensei em me jogar no mundo da fotografia e documentarios, pensei em fazer um casulo com meus livros e a música. No final fui domir, estava adormecida até agora.
Tive umas epifanias e me pergunto se não foi obra do diabo pra acabar com o resto da minha sanidade mental, mas ficamos com a primeira opção. Vai dar certo.
O blog fica no mesmo esquema que antes, não se prende a nada (pra casar bonitinho com minha personalidade). Vai ter varialibilidade musical, vai ter nóticias desconexas, vai ter existencialimo barato sim e se reclamar ainda coloco um TCC completo sobre a literatura da Sylvia Plath!
Estudei linguística para uma prova, e me deparei com uma definição da linguistica diacrônica. Acho que está em par do que vivo agora. Uma mudança sem nenhum tipo de previsão do que vai acarretar, ela acontece e todo o resto a ele interligados se transforman, meio que em solidariedade. Faço uma mudança e não sei  o que está por vir, não tenho tempo para planejamentos e os ciganos com seus baralhos sumiram da cidade. Resta acreditar em mim e no que acredito, todo o resto é secundário. Tenho alimentando minha alma com pequenas doses de sarcasmo e atos por impulso por que levar o mundo a sério demais danifica a paz construída a muito custo pela Arte. Acredite em mim, falo por amarga experiência.

Obs: Como tinha dois blogs vou juntar os dois em um. Não estranhe o que vou tratar aqui se não conhecia o outro.

Scenes Of The Suburbs: As pessoas mudam, as amizades seguem o mesmo curso.



Esse curta estava na minha lista de "Para ver antes de morrer" um bom tempo. Na época que o encontrei, ao acaso no Filmow, procurei na rede com a persistência de um ladrão de banco e nada de achar.
Esqueci o curta e o deixei de lado por uns 2 anos. Semana passada foi que consegui encontrar.
A temática é beeeeem batida: As mudanças na chegada da adolescência de um grupo de amigos em um subúrbio americano. Com o plano de fundo sendo a guerra do golfo de 1990.
Apesar de tão pouco tempo o curta conseguiu passar mais do que muito filme de 2 horas por aí.
A maneira como a guerra afetou as relações com os amigos e familiares é gritante no drama, mas o que mais me sensibilizou foi a aproximação da realidade das amizades, não importa se de infância ou recentes, que desaparecem do nada. Sem rastros ou despedidas.
Pessoas que mudam e não nos dá nem a chance de nos acostumar com a mudança... Ah tantos casos!
Nunca teve um?
A trilha sonora é fabulosa, gente foi terminar o curta e correr para o disco The suburbs do Arcade Fire (banda famosinha no meio indie). Disco esse que inspirou o diretor Spinke Jonsen para fazer esse curta, Diretor do filme Her, lembram?
Deixo o curta legendado aqui para conferirem.



Scenes from the Suburbs Pt-Br from adrico on Vimeo.


"Você sabe que a música nos divide em tribos
Você deixou seu cabelo crescer, então eu deixei o meu
Você disse que o passado não descansaria,
Até pularmos a cerca e deixarmos isso para trás..."  

Suburbs War - Arcade Fire


Onde estão as pessoas interessantes?



Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas to falando dos “fabricação em série”. Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia.
Tinha me decidido a banir a palavra “balada” da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, meus hormônios começaram a sentir falta de uma boa barba pra se esfregar.
Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de “tô no meu mundo, fique no seu”. Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar “se são meus amigos, logo, devem ter amigos interessantes”. Infelizmente essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. To fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.
Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi to mais do que fora, baladas playbas com garotas praianas hippye-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de serem meigas com o desejo de serem manos com o desejo de serem patos) e rapazes garoto propaganda Adidas com cabelinho playmobil também to fora. 
O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram “tristeza não tem fim, felicidade sim” no ombro do amigo, têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha super descolado só porque tirou a gravata e que fala tudo metade em inglês ao estilo “quero te levar pra casa, how does it sounds?” Foi então que descobri os muquifos eletrônicos alternativos, para dançar são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo. To procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra.
Minha mais recente descoberta foram as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana… gente tão bacana que se basta e não acha ninguém bacana. Na praia quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas. Facebook, Whatsapp, Twitter, chats… me pergunto onde foi parar a única coisa que realmente importa e é de verdade nessa vida: a tal da química. Mas então onde Meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê,… e eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos?
Foi então que eu descobri. Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.
A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?



                                                                                                                - Tati Bernardi           -